Evento apresentou dados preocupantes sobre violência de gênero e formas de aperfeiçoar o combate à criminalidade com inovação tecnológica
O Fórum Nacional da Inteligência Aplicada para o Combate à Criminalidade (IACC) chegou à sua segunda edição, em 2019, com grandes contribuições na área investigativa aliada à tecnologia. Mas, não só isso: as entidades que promoveram o evento na capital paulista, nos dias 26 e 27 de novembro, também lançaram um movimento voltado para o engajamento das mulheres nas forças de segurança pública. E, assim, o Fórum vem se consolidando como um espaço de diálogo qualificado do setor.
Os debates foram divididos em quatro painéis por dia, com temas sobre os desafios da polícia judiciária e o seu papel na segurança pública; desafios para o enfrentamento da corrupção; crimes cibernéticos; organizações criminosas; lei orgânica e Constituição Federal; segurança pública como direito humano fundamental, que abordou violência de gênero e as formas para o enfrentamento, principalmente, nos meios digitais.
Foram mais de mil participantes entre delegados das polícias Federal e Civil de vários estados, especialistas e autoridades, como o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, e o secretário Nacional de Segurança Pública (Senasp) do Ministério da Justiça, Guilherme Theophilo. Houve, ainda, uma exposição de tecnologia para o combate ao crime, por meio da participação de empresas internacionais que são referência no segmento. Pela primeira vez, o Fórum foi aberto ao público acadêmico, com grande adesão de estudantes.
O presidente da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF), Edvandir Paiva, participou do primeiro dia como debatedor do painel “Desafios para o enfrentamento da corrupção”. Ele mediou debates sobre o crime institucionalizado e implementação de inovações em prevenção primária, controle, detecção, repressão e recuperação de ativos.
“É nossa responsabilidade constitucional proteger com a própria vida a sociedade, gerir bem a polícia e privilegiar o interesse público”, disse Paiva. Para ele, não basta apresentar só os problemas, é necessário apresentar soluções. “Eventos como esse existem para mostrar qual é a nossa visão”, afirmou.
Mobilização
A iniciativa do Fórum IACC é da Associação dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (ADPESP), Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal/Regional de São Paulo (ADPF-SP), Sindicato dos Delegados de Polícia Federal do Estado de São Paulo (SINDPF-SP) e do Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (SINDPESP).
As quatro entidades resolveram reunir especialistas em segurança pública nesse evento anual com o objetivo de inserir o tema na agenda estratégica do país. Também é nesse contexto que as referidas instituições colocaram em pauta a importância da participação feminina nas carreiras policiais, não apenas para valorizar e evidenciar o trabalho das mulheres nessa área, como também, para fortalecer o combate aos crimes contra elas. Essa é a motivação do Movimento Mulheres na Segurança Pública, lançado no segundo e último dia do Fórum.
O evento, inclusive, apresentou dados preocupantes sobre violência de gênero, apontando que o Brasil ocupa a 5ª posição mundial em feminicídio, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). E dados da ONG Safer Net revelando que, entre 2017 e 2018, o número de crimes virtuais contra a mulher cresceu 1.600%, passando de 961 casos para quase 17 mil, sendo o mais comum, a divulgação de imagens íntimas, sem o consentimento da vítima.
“No atual momento do País, a segurança pública assume definitivamente o papel central da preocupação e das reivindicações da sociedade. E é preocupante que isso se torne, também, terreno fértil para o surgimento de soluções desconectadas e baseadas na truculência”, avalia o presidente da ADPESP, Gustavo Mesquita Galvão Bueno. Para ele, é necessário combater o crime com técnica e inteligência e investir nos profissionais da área e em tecnologia. “Ressalto, ainda, que o IACC cumpriu o seu papel e debateu com profundidade esse tema fundamental para o país”, disse.
A presidente do SINDPESP, Raquel Kobashi Gallinati, reforçou que a presença da mulher é essencial em todas as etapas do trabalho de segurança pública. “Do atendimento da Polícia Civil, passando pelo registro e investigação pelas delegacias, até a conclusão do caso no Poder Judiciário”, pontuou. Segundo ela, além da participação feminina no atendimento à população, é preciso que as mulheres vítimas de violência sejam acolhidas e se sintam seguras para fazer a denúncia. “Nesse contexto, a presença e o protagonismo das mulheres nesse setor são fundamentais. E o Movimento Mulheres na Segurança Pública reúne um conjunto de ações com o objetivo de promover mudanças na sociedade de uma forma mais ampla”, afirmou.
A diretora regional da ADPF-SP e presidente do SINDPF-SP, Tania Prado, disse que a tecnologia no enfrentamento ao crime é o mote do Fórum IACC e que, nesta edição, apresentou casos em todos os segmentos, desde a atuação da inteligência nos cibercrimes – que envolvem lavagem de dinheiro e altos valores financeiros -, aos crimes contra a mulher, também nos meios digitais.
Segundo Tania, o Movimento Mulheres na Segurança Pública trouxe ainda mais notoriedade para o tema e atuação da mulher neste segmento. “O Movimento vem ao encontro do aumento da participação e no reconhecimento do trabalho desempenhado pelas mulheres na segurança pública e em todos os segmentos da sociedade”, define.
A titular da 2ª Delegacia de Defesa da Mulher, na capital paulista, e diretora de Comunicação Social da ADPESP, Jacqueline Valadares, fala que a violência sofrida pelas mulheres e a submissão a que estão sujeitas é fruto de uma cultura machista e discriminatória, cujo fundamento é cultural e decorre da desigualdade no exercício do poder e que leva a uma relação de dominante e dominado.
“Outros fatores também colaboram para violência de gênero como, por exemplo, as diferenças sociais, econômicas e políticas entre homens e mulheres, além da diferenciação de papéis na sociedade”, disse Jacqueline. Para ela, com a evolução da sociedade e a inserção da mulher no mercado de trabalho, iniciou-se um processo de libertação feminina que, de maneira gradativa e, após muita luta, resultou na admissão de papéis de destaque pela mulher no âmbito da segurança pública, mas ainda em patamar de desigualdade em relação aos homens. “E o Movimento Mulheres na Segurança vai permitir maior participação feminina nesse setor”, enfatizou.
No encerramento da edição de 2019 do IACC, representantes das entidades realizadoras defenderam a missão do Fórum de promover as boas práticas de investigação com mais investimentos em tecnologia e inovação, para combater a criminalidade e garantir a sensação de segurança aos cidadãos.