Ao chegar ao II Simpósio Internacional de Segurança, o público foi imerso em um ambiente totalmente high tech que demonstrou como a tecnologia pode ser uma parceria de sucesso da segurança pública. Expositores demonstraram, na prática, como o reconhecimento facial, por exemplo, pode ajudar a capturar fugitivos da polícia. Quem passou por algum dos estandes e registrou foto e digitais era identificado pelas câmeras do local.
O evento, que reuniu centenas de participantes das áreas de tecnologia e de segurança pública, foi realizado pela regional da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal no Distrito Federal (ADPF-DF), no mês de março, em Brasília, para debater a importância da tecnologia no combate à corrupção; métodos de investigação; privacidade na rede; gestão de fronteiras; e crimes cibernéticos.
Segundo o diretor da ADPF-DF e anfitrião do Simpósio, Luciano Leiro, o compromisso da instituição foi o de promover debates de alto nível. “Foi um momento para conhecermos casos em que a tecnologia foi fundamental para elucidação de crimes. A associação quer espalhar boas práticas de tecnologia do Brasil e do mundo. Não é um gasto, é um aliado no combate à criminalidade”, disse.
Para os painéis, foram convidados delegados federais, CEOs da área de tecnologia e inteligência artificial, executivos, secretários de segurança pública dos estados, juízes e representantes dos órgãos ligados à ordem social. Durante o evento, o presidente da ADPF, Edvandir Paiva, lembrou que, desde que assumiu a associação, se comprometeu a fazer um contraponto a todas as teorias que dizem que os delegados da polícia judiciária são os responsáveis pelos problemas da segurança pública, no Brasil. “Dissemos que assumiríamos as nossas responsabilidades. E quais são as responsabilidades de um dirigente? Enfrentar o problema, formular soluções, projetos e executá-los, além de prestar contas à sociedade”, afirmou.
Paiva avaliou que a tecnologia não deve substituir a mão de obra humana, mas, sim, aperfeiçoar os trabalhos de combate à criminalidade. “Não acreditamos que é possível trazer a solução só com tecnologia. Mas nós acreditamos que os talentos do policial, do fator humano, das forças de segurança pública, podem ser aprimorados com o uso das ferramentas de tecnologia”.
No primeiro dia do Simpósio, o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, participou da mesa de abertura e defendeu a autonomia da Polícia Judiciária. “Não se pode falar em segurança pública simplesmente olhando para a polícia. O ciclo criminológico tem algumas premissas e a primeira é que a polícia tenha independência, sem interferência política. Isso precisa ser aplicado em sua plenitude”, discursou.
Delegados federais dividiram conhecimento com o público
O Simpósio contou com a participação de vários delegados federais que tiveram a oportunidade de apresentar ferramentas que usam no dia a dia para facilitar o combate ao crime organizado e dividir boas práticas com os participantes. “A tecnologia é um caminho sem volta”, defendeu o diretor-executivo da PF, Disney Rossetti. O delegado federal disse que não é mais possível imaginar a segurança pública sem inovação e reiterou que o uso dela é sinônimo de economia. “Para cada centavo investido em tecnologia, teremos reais de retorno para a sociedade brasileira”.
O delegado federal Alessandro Moretti, secretário-executivo da Secretaria de Segurança Pública do DF, abordou o uso da tecnologia na gestão de políticas públicas de enfrentamento ao feminicídio. O delegado federal Washington Clark, mediou um painel sobre sistema penitenciário e o delegado federal e secretário de Segurança Pública do Pará, Ualame Fialho Machado, conduziu o debate sobre Smart Cities (em português, “Cidades Inteligentes”).
Outro convidado do evento, o delegado federal Mozart Fuchs, chefe da Delegacia de Foz do Iguaçu (PR), demonstrou o quanto a tecnologia é essencial no controle da fronteira entre Brasil, Paraguai e Argentina, além de auxiliar no trabalho de outros órgãos. “Em razão desse grande fluxo de pessoas, e das dificuldades enfrentadas, passamos a discutir diversas ideias com as quais pudemos contribuir para o aumento da efetividade das fiscalizações, não apenas da Polícia Federal, mas também dos outros órgãos públicos que trabalham naquela região, como a Receita Federal, o Mapa e a Anvisa”.
O mediador do painel sobre fronteiras, delegado federal Rogério Galloro, disse que o País tem um trabalho árduo diante do tamanho da área fronteiriça. “Imaginem o desafio do Brasil que tem 16.000 km de fronteira terrestre com diversos Países, das mais variadas culturas? A mais conhecida é a de Foz do Iguaçu. Há uma visibilidade muito grande dessa área”, explicou.
O delegado federal Delano Cerqueira Bunn, diretor de gestão de pessoas da Polícia Federal e ex-superintendente da PF no Ceará, mediou o painel “Segurança Pública 2” e demonstrou a importância de unir as forças de inteligência contra o crime. “Nós precisamos avançar muito, de maneira integrada, não só entre os órgãos de segurança pública, mas com as academias, universidades e a indústria brasileira”, afirmou.
Para Bunn, o País é deficitário de investimento nas indústrias de tecnologia. “No Brasil, precisamos fomentar mais as patentes e avançar no desenvolvimento da indústria nacional”, analisou.
Secretário da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará, desde janeiro de 2017, o delegado federal André Costa falou sobre a estratégia montada pela equipe no período em que a cidade de Fortaleza passou por uma onda de atentados. “Mais do que falar só sobre tecnologia, devemos pensar primeiro qual é o problema que nós temos que enfrentar e, a partir desse momento, traçarmos a estratégia que será realizada e, depois da estratégia definida, é que nós vamos ver que ações serão necessárias”, detalhou.
Para Costa, a tecnologia é uma importante aliada nesse processo. Ele ressaltou que o estado evoluiu no quesito segurança, além de investir no policial. “O Ceará hoje, talvez, seja o único estado que presta uma assessoria jurídica gratuita as seus policiais”, disse.
Ao final do simpósio, o clima era de satisfação. “Durante os dois dias do evento, passaram mais de mil gestores das áreas temas do evento. Foi uma oportunidade de conhecer grandes avanços no setor para o combate à corrupção”, afirmou o anfitrião do evento, Luciano Leiro, que aproveitou a ocasião para confirmar uma edição do evento, em 2020.