Movimento está em fase de aperfeiçoamento das medidas em favor das mulheres que atuam nas polícias judiciárias. Objetivo é alcançar outras forças de segurança.
O Brasil ocupa a quinta posição no ranking mundial de feminicídios, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Além disso, o número de denúncias de crimes na internet contra a mulher cresceu 1.640%, entre 2017 e 2018, passando de 961 casos para 16.717 denúncias, segundo a ONG SaferNet.
São números poderosos e, por isso mesmo, lideranças femininas do País decidiram se levantar para ocupar todos os espaços disponíveis e dar voz aos direitos das mulheres. E esse grito veio justamente de onde elas mais necessitam de proteção: o Movimento Mulheres na Segurança Pública está sendo gestado no estado de São Paulo.
A ideia é esclarecer e divulgar as medidas para a efetiva proteção das mulheres vítimas de violência doméstica, como também reforçar a participação feminina nas forças policiais. O movimento quer lutar pelo reconhecimento dos direitos das grávidas, lactantes e mães de crianças que já atuam na área, sobretudo no que diz respeito aos plantões policiais, sobreavisos e missões fora da base.
O movimento também buscará contribuir no trabalho que as polícias civis vêm implementando nos estados e no Distrito Federal para melhorar e ampliar o atendimento às mulheres vítimas de violência doméstica.
“Hoje ocorrem eventos como o Congresso Brasileiro sobre Mulheres na Polícia, o que antes sequer era cogitado. As redes sociais ampliaram as possibilidades de comunicação e divulgação dos trabalhos das delegadas e demais policiais”, explica a diretora regional da ADPF-SP, Tania Prado, uma das líderes do movimento.
Esses espaços de debates vêm tomando corpo em várias regiões do País e, neles, o movimento vai aproveitar para, futuramente, identificar e conectar as mulheres de outras forças de segurança. Por enquanto, o trabalho está em fase de implantação e aperfeiçoamento das medidas em favor das mulheres que atuam nas polícias judiciárias de São Paulo.
Entre as medidas está a criação da identidade visual; abas nas páginas das entidades que estão à frente do movimento para adesão de quem queira se cadastrar e acompanhar os eventos; e criação de newsletter. Para levar adiante as ideias defendidas, o movimento buscará interagir com aqueles que dirigem as instituições policiais, secretarias de segurança pública e governantes para o convencimento das pautas.
“É preciso investir no aperfeiçoamento das instituições policiais e na formação dos que atuam nessa área, além de fomentar a participação daqueles que estão diretamente atendendo as vítimas”, defende Tania Prado.
Lançamento
O Movimento Mulheres na Segurança Pública foi lançado em novembro de 2019, durante a 2ª edição do Fórum Nacional de Inteligência Aplicada para o Combate à Criminalidade (IACC), ocorrido em São Paulo. Encabeçam a ação, a presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (SINDPESP), Raquel Kobashi Gallinati; a titular da 2° Delegacia de Defesa da Mulher e diretora de comunicação social da Associação dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (ADPESP), Jacqueline Valadares; a delegada Marina Acursio, da diretoria do SINDPESP; e a delegada federal Tania Prado, que também preside o Sindicato dos Delegados de Polícia Federal do Estado de São Paulo (SINDPF-SP). As quatro entidades são as realizadores do IACC e idealizadoras do movimento de mulheres.
Para Raquel Kobashi Gallinati, a mobilização não será só para as delegadas de polícia, mas para todas as mulheres que, de certa forma, admiram e querem contribuir para a segurança pública. “A profissão não escolhe gênero e, sim, a aptidão. E, se temos aptidão, temos que quebrar essas barreiras e estigmas e adentrar essas instituições”, reforça.
Jacqueline Valadares menciona a importância da iniciativa para ajudar mulheres que diariamente são vítimas de violência física ou psicológica. “A ideia não é só incentivar a chegada de novas mulheres na segurança pública, mas também proporcionar um melhor atendimento às vítimas de violência em nossa sociedade”, afirma a delegada.
Para a delegada Marina Acursio, a ideia é conseguir acolher todas as mulheres que têm a intenção de entrar na carreira policial. E, para as que são policiais, reforçar a consciência de seus direitos. “Quando começa a aumentar a quantidade de mulheres dentro das carreiras policiais, se cria essa empatia com as vítimas”, avalia.